Como a superação da pandemia reflete no mercado financeiro?

Desde a última semana de julho, as cotações no mercado financeiro passam por um momento de estresse, comportamento que se manteve durante o mês de setembro.

“O mercado é um pêndulo que oscila entre o otimismo insustentável e um pessimismo injustificável.” Benjamin Graham (1894-1976), investidor e principal referência do bilionário Warren Buffet.

Preocupações como inflação e juros estiveram em destaque no mundo todo, aliadas ao cenário local com várias fontes de ruídos. Ainda que boa parte disso sejam situações transitórias, acabam afetando as expectativas que movimentam os investidores no curto prazo. 

Em contrapartida, o fato dessas preocupações econômicas estarem relacionadas com o início da superação da pandemia é, na verdade, algo positivo. 

Vários indicadores apontam a superação na atividade global, e com isso os governos sinalizam que se aproxima uma redução gradual dos estímulos que pressionam excessivamente as contas públicas. 

É natural que após um acontecimento tão relevante como a pandemia as atividades demorem a voltar ao normal. Seja por aspectos pessoais como comportamentos,  estilos de vida e, principalmente, a confiança no futuro, como por fatores econômicos – com ênfase ao ajuste entre oferta, estoques e demanda em vários setores. 

Importante destacar que não houve destruição de estruturas produtivas no mundo. Inclusive, tivemos uma grande superação no desempenho das empresas, em especial daquelas em bolsa. Com mudanças estratégicas, ajustes no trabalho e nos negócios, as empresas tiveram maior produtividade e ganhos de mercado.

Juros baixos e incentivos ao consumo 

O avanço mundial da vacinação e tratamentos contra Covid-19 continuará sustentando a superação da pandemia, com projeções de crescimento do PIB mundial próximo a 6% em 2021 e acima de 4% em 2022, segundo o FMI. 

No curto prazo devem persistir pressões inflacionárias, relacionadas aos problemas no fornecimento de matérias-primas e logística. Isso retarda mudanças imediatas nas políticas de incentivos pelos governos, e retém a ansiedade dos investidores.

Como referência: nos Estados Unidos a taxa de desemprego tem reduzido significativamente, de 14,8% em maio de 2020 para 4,8% agora em setembro, mais próxima dos 3,5% de fevereiro de 2020. E a inflação ao consumidor indica recuo após atingir 5,4% nos últimos 12 meses – mesmo que longe da inflação desejada de 2% ao ano. 

Esses fatores combinados têm feito o banco central Fed sinalizar a redução (tapering) da injeção mensal de recursos na economia, que está em US$ 120 bilhões desde a pandemia. 

Nessa linha, analistas devem continuar questionando se a taxa de juros atual, em até 0,25% ao ano, pode ser elevada antes do final de 2022, como o Fed tem indicado. 

Essa possível contração na política monetária nos Estados Unidos, que pode ser vista como uma gradual volta à normalidade, é uma tendência mundial de superação e têm limitado o ânimo de investidores de curto prazo. 

Estas mudanças devem continuar afetando setores onde a especulação financeira levou a cotações exageradas, sem sustentação nos lucros das empresas nos próximos anos. 

Ao passo que neste mês inicia a divulgação dos balanços do 3º trimestre, que devem reafirmar que muitas empresas crescem com qualidade, ainda com cotações distantes das máximas. Ou seja, existem boas oportunidades àqueles com visão e foco nos fundamentos reais dos investimentos.

Já na China, outro polo de crescimento, continuam as fortes políticas para a sustentação do consumo interno e a requalificação das indústrias e fontes de energia para meios menos poluentes. 

Isso acontece em meio aos ajustes no sistema de crédito, com destaque para problemas no setor imobiliário, e se une aos receios recorrentes sobre financiamentos de consumidores e veículos. 

Porém, apesar destas situações gerarem incertezas e recuos pontuais nos preços das commodities que o Brasil exporta, não muda a tendência estrutural de aumento do consumo chinês. 

Afinal, apesar da conexão com mercados globais, os problemas imobiliários são situações locais de atenção do governo. O que inspira mais incentivos, dado a grande capacidade de superação da pandemia e evolução em controles e regulações. 

Brasil: 4º trimestre indica uma retomada e a superação econômica

Com a aceleração da vacinação contra Covid-19 nos últimos meses, o país já alcança 70% da população com uma dose da vacina e 45% com a segunda dose. Observamos que a mobilidade social já supera o nível anterior à pandemia, impulsionando a retomada e superação do setor de serviços.

Isso recoloca o desemprego como preocupação maior. Dados do Ministério do Trabalho apontam que a Central Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou um saldo de novas 372 mil contratações formais em agosto, passando de 2,2 milhões no ano. 

Porém, ainda é a metade do necessário para que a taxa de desemprego calculada pelo IBGE, em 13,7% até julho, possa ser reduzida para abaixo de 10% do patamar do início de 2016, que ainda se mantém distante da faixa de 6% existente entre 2013 e 2014.

Outro fator que demonstra a superação econômica são os sucessivos recordes na arrecadação federal de R$ 146 bilhões em agosto, a maior neste mês desde 1995.

A inflação em alta e os menores gastos com a pandemia têm controlado o endividamento público – que em agosto teve redução para 82,7% do PIB, o 6º mês de queda. Ainda aquém dos 75% do PIB anterior à pandemia, mas que contraria as previsões de grande alta.

Com essa base, a prioridade política (e eleitoral) em alinhar auxílios à população sem rendas – com as demandas individuais de políticos e partidos – e preservar o pagamento de compromissos como precatórios, aponta que a agenda de reformas, como administrativa e tributária, deve ter dificuldades para avanços mais efetivos.  

Inflação alta continua sustentando aumentos nos juros da Renda Fixa, mas ainda sem ganho real ao investidor.

Uma persistente pressão em custos, como câmbio desvalorizado, alta nos preços de commodities e impacto da seca, elevou a inflação ao consumidor (IPCA) em +10,25% nos últimos 12 meses. 

Isso continua exigindo do Banco Central o aumento da taxa de juros Selic, atualmente em 6,25% ao ano, com projeções para novos aumentos nos juros de até 8,25% ao ano, em dezembro, e mantendo nessa faixa em 2022, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central.

Porém, isso é dinâmico, com boa chance de melhora no início da temporada de chuvas, ao final de outubro, e gradativa superação das cadeias produtivas mundiais.

Divulgação dos balanços do 3º trimestre é mais uma referência real que estamos atentos.

De forma geral, as empresas na bolsa local permanecem em preços atraentes, e existem vários setores e empresas com cotações descontadas ao seu desempenho operacional e histórico. 

Ao passo que os balanços do 3º trimestre devem novamente apresentar resultados robustos. Em maior evidência os setores cuja superação já tem ocorrido. Um exemplo é a exportação de commodities, como alimentos, petróleo e minério de ferro.

Paralelo, em alguns setores que não tiveram superação total, como bens de consumo, esperamos que este 4º trimestre sinalize aceleração. 

Temos o impacto crescente da vacinação na confiança e demanda, e efeitos positivos da recomposição de estoques e suprimentos, além de datas importantes para o varejo.

Foco da gestão é no valor das empresas investidas perante seu preço em bolsa, com diversificação e liquidez.

Buscamos evitar as visões generalistas, nosso foco é entender quais são os potenciais e riscos de cada empresa que investimos. 

Acreditamos que a volatilidade e a queda nas cotações abrem oportunidades em muitos negócios robustos, que demonstram a superação de seus desafios, e entregam resultados consistentes.

Ao final de setembro, o Próprio Capital Fundo de Ações registrou valorização das cotas em +24,2% em 12 meses, período em que o Ibovespa teve variação de +17,3%. 

Neste mês o fundo teve recuo de 5,2%, com o valor da cota em 5,47, e o Ibovespa teve queda de 6,5%. Em 2021, o Próprio Capital está positivo, com +1,4% de alta.

Investimento periódico, a partir do seu perfil, conhecimento e objetivos é a melhor estratégia.

Não é necessário ficar esperando condições melhores para avaliar ajustes nos investimentos pessoais. O importante mesmo é entender seu perfil, buscar boas fontes de conhecimento e definir objetivos. 

Em geral, é indicado separar em renda fixa o capital para eventos inesperados e gastos planejados. 

No capital para investimento – que for aplicado em uma carteira de empresas como o Próprio Capital – após ter definido uma alocação adequada é interessante que sejam feitos investimentos periódicos, e nos momentos de quedas, reforços nas aplicações.



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